Portugal é internacionalmente reconhecido pela qualidade da sua indústria têxtil e vestuário. Este setor tem raízes profundas na economia nacional e é hoje uma referência de inovação, design e sustentabilidade.
A excelência das empresas têxteis portuguesas está diretamente relacionada com o investimento em tecnologia, mão de obra qualificada e, claro, o compromisso com certificações que garantem qualidade, segurança e responsabilidade ambiental.
Neste artigo, vamos apresentar algumas das maiores e mais relevantes empresas têxteis a operar em Portugal, destacando o seu impacto económico, posicionamento internacional e compromisso com práticas sustentáveis.
Quais são as empresas têxteis mais antigas em Portugal?
O setor têxtil português é um dos mais antigos e relevantes da indústria nacional, com raízes profundas em regiões como o Vale do Ave e o distrito de Braga. Algumas empresas destacam-se pela sua longevidade e capacidade de adaptação ao longo das décadas, contribuindo de forma significativa para a reputação de qualidade dos têxteis "Made in Portugal". Entre as mais antigas, encontram-se:
1. Têxtil Torres Novas (1845)
A Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas foi fundada a 2 de Outubro de 1845, em Torres Novas, por um grupo de comerciantes de Lisboa, desejosos de se tornarem independentes de importações.
Nos primeiros anos de existência, focou-se sobretudo na fiação de linho, juta e algodão, e também na confeção de lonas de algodão, predominantemente para o mercado nacional. No final do século XIX era uma das maiores empresas da indústria transformadora portuguesa.
Com a aquisição da empresa em 1949 por António Medeiros e Almeida, a Companhia de Torres Novas passou por um significativo processo de modernização e promoção no estrangeiro, tendo iniciado, em 1972, o fabrico de toalhas de banho e outros artigos turcos (roupões, chinelos, etc.), passando a controlar todo o processo produtivo, de forma vertical, desde a produção de fio de algodão ao produto final.
Com a entrada no novo milénio, a Companhia de Torres Novas começa a sofrer com concorrência estrangeira e com o desaparecimento de clientes importantes, proporcionado pela crise financeira de 2008, tendo fechado em 2011.
Em 2020, uma nova geração relança a marca “Torres Novas” com o apoio do acionista de referência e antigo Administrador da Companhia de Torres Novas, Adolfo de Lima Mayer, suportando-se em todo o legado e know-how adquirido desde a fundação da fábrica no século XIX, mantendo as características de qualidade e design que sempre caracterizaram a marca e procurando adaptar-se às necessidades do consumidor do agora.
2. Vital Tecidos (1911)
A Vital Tecidos foi criada, em 1911, por uma mulher corajosa e trabalhadora de seu nome Etelvina de Jesus Machado. No início era designada de Manual de Tecidos de Algodão e dedicava-se à produção manual de colchas.
Em 1925, Etelvina casou-se com Vital Marques Rodrigues. Nesse ano, já possuía 16 teares, mas juntos decidiram apostar na produção de outros tecidos
e na criação da tinturaria.
Atualmente a ser gerida simultaneamente pela terceira e quarta geração, a Vital Tecidos destaca-se pela sua ampla gama de produtos e pela relação próxima que mantém com os seus clientes.
Sendo, orgulhosamente, uma empresa industrial centenária com uma vasta experiência têxtil, mas com uma constante busca por inovação e desenvolvimento, combinando a tradição com mentalidade empreendedora.
3. Sampedro (1921)
Fundada em 1921, a Sampedro é uma empresa têxtil líder internacional e uma das poucas empresas verticais em Portugal, abrangendo todas as fases do processo produtivo, desde o fio até ao produto final.
Decorria o ano de 1921 quando o professor universitário Dr. Álvaro Machado, seu cunhado Luís Eugénio D’ Oliveira Braga (em representação da Firma “Fonseca, Braga & Cia Lda”) e José Ribeiro Machado, importantes comerciantes da cidade do Porto, decidem dedicar-se à indústria têxtil que, por esta altura, já impulsionava a região de Guimarães.
Esta gerência permaneceu durante a instalação da empresa e construção do edifício, sendo que, em 1923, a gerência efetiva passou estar sob a alçada do Dr. Paulo Alves no escritório do Porto e do Sr. Eduardo Rodrigues Machado na sede em Lordelo.
A sua cultura de exigência na qualidade, mas também de algum idealismo e romantismo viriam a forjar definitivamente os valores e a identidade da marca Sampedro.
Até aos dias de hoje, esta herança permanece fortemente enraizada na cultura da empresa que começou a sua atividade como fabricante de tecidos de linho, essencialmente dedicados, na altura, à confeção de lençóis e atoalhados. Só mais tarde, a Sampedro viria a alargar a sua oferta a produtos de algodão, poliéster/algodão e felpos.
Ao fim de 100 anos de existência e 4 gerações depois, a roupa de cama Sampedro continua a ser a sua imagem de marca mais forte e o seu produto mais icónico.
4. Barcelcom (1921)
A Barcelcom Têxteis, S.A. é uma empresa têxteil com origem em 1921 produzindo produtos e desenvolvendo tecnologias de compressão graduada desde 1999.
As atividades de inovação têm tido o apoio e cooperação de várias entidades de prestígio mundial, como a Universidade do Minho, o CENTI e Hospital de São João.
A Barcelcom Têxteis atua no setor dos têxteis técnicos para a saúde, um mercado global estimado em 200 mil milhões de dólares, com projeções de crescimento significativas nos próximos anos. A empresa destaca-se pela aposta contínua na inovação, desenvolvendo produtos e tecnologias patenteadas que têm demonstrado eficácia e contribuído para a sua consolidação no mercado.
Com uma estrutura produtiva orientada para a competitividade e uma relação preço/qualidade ajustada às exigências de marcas próprias e marcas privadas, a Barcelcom colabora com algumas das marcas mais reconhecidas a nível nacional e internacional. A totalidade dos seus produtos, incluindo os destinados ao desporto, possui certificação como dispositivos médicos.
5. Fábrica de Tecidos do Carvalho (1925)
Com 100 anos de experiência no sector têxtil, a Fábrica de Tecidos do Carvalho, assume-se como uma empresa familiar que pretende ser reconhecida como fabricante de toalhas felpudas de elevada qualidade, de acordo com todas as normas e regulamentos em vigor.
A Fábrica de Tecidos do Carvalho tem sempre a preocupação de oferecer os mais elevados padrões de qualidade, conforto, inovação e design. Desta forma, trabalham para satisfazer os seus clientes e as necessidades da comunidade envolvente bem como criar novas oportunidades de negócio em todo o mundo.
Localizada em Lordelo, Guimarães, a empresa é gerida pela terceira geração, estando a quarta geração em fase de aprendizagem, reforçando os esforços para implementar um processo produtivo orientado para elevados padrões de qualidade.
6. Riopele (1927)
O jovem empreendedor José Dias de Oliveira, fundador da Riopele com a instalação de dois teares para a produção de tecidos (cotins e riscados) num moinho de água, situado na margem esquerda do rio Pele, em Pousada de Saramagos, concelho de Vila Nova de Famalicão.
Com a ambição de criar uma fábrica completa, José Dias de Oliveira transfere a unidade de produção para um novo edifício. Nas novas instalações crescem, ao longo de duas décadas, as áreas da Fiação, da Tinturaria, da Tecelagem e dos Acabamentos, afirmando-se o sentido vertical de organização da produção.
7. Albano Morgado (1927)
Os anos foram longos. As informações eram lentas e escassas. E moda era algo que as pessoas não consideravam importante.
Nasceu em 1927, nas mãos de Albano Antunes Morgado. A Empresa, que se iniciara com a tecelagem, tinha desde 1964 alvará para tinturaria e ultimação e, com a aquisição em 1970 de uma outra sociedade industrial de Loriga, passou a ser titular de alvará para cardação e fiação.
Conseguiu assim reunir a habilitação para as várias fases de produção de tecido de lã cardada, desde a cardação - abrir e desfiar as fibras da lã para permitir fabricar o fio - e fiação, passando pela urdidura e tecelagem, até à tinturaria e ultimação.
Finalmente, a Empresa tornara-se vertical, reunindo as várias etapas de produção do tecido cardado, feito a partir da aquisição de lã lavada.
E como a Empresa deixou de estar dependente de terceiros, reunindo agora em si mesma todas as etapas produtivas, passou a deter o controlo total da sua fabricação e a poder garantir qualidade, variedade e um melhor serviço aos seus clientes.
8. Polopique (1935)
A empresa foi fundada em 1935 como Teviz - Têxtil de Vizela, S.A., uma pequena fábrica de têxteis em Portugal.
Mais tarde, em 1996, passou a Polopiqué sendo esta uma das poucas empresas têxteis na Europa com integração vertical completa, controlando a produção desde a fiação, tecelagem/tricotagem, tinturaria/acabamento até ao fabrico de artigos de vestuário e têxteis-lar.
O grupo foi fundado em 1996 por Luís e Filipa Guimarães, com a missão de confecionar e comercializar artigos de vestuário, perpetuando a dedicação familiar à indústria têxtil.
Desde então, tem mantido a missão de crescer e quebrar fronteiras, no sentido da modernização e desenvolvimento a nível internacional. Assim, em 2012, investiu no negócio da fiação, com o objetivo de integrar a verticalidade do grupo.
9. Paulo de Oliveira (1936)
Fundado em 1936 na Covilhã, cidade historicamente ligada à indústria da lã e muitas vezes apelidada de “Manchester Portuguesa”, o grupo Paulo de Oliveira é atualmente uma das referências do setor têxtil em Portugal e na Europa.
Localizada na encosta da Serra da Estrela, a região sempre ofereceu condições naturais ideais para o desenvolvimento da indústria lanifícia, com abundância de água, madeira e pasto para ovelhas merino.
O grupo distingue-se por um modelo de produção vertical, controlando todo o processo, desde a fiação até ao acabamento dos tecidos. Exporta a maioria da sua produção para mercados de vários continentes, com foco na qualidade, inovação e responsabilidade ambiental.
Composto pelas empresas Paulo de Oliveira, Penteadora e Tessimax, o grupo aposta fortemente em tecnologia de ponta e práticas sustentáveis. A energia proveniente de painéis solares, o reaproveitamento de matérias-primas e a reutilização da água são parte integrante da sua estratégia de gestão ambiental.
Reconhecido como líder europeu na produção de tecidos de lã com elevado conforto e funcionalidade, o grupo mantém uma forte ligação ao património industrial da Covilhã, sendo considerado um dos principais embaixadores da tradição têxtil da região.
10. Têxtil Manuel Gonçalves (1937)
O Grupo TMG tem as suas origens na década de 1930, em Vila Nova de Famalicão, com a fundação da Fábrica da Fiação e Tecidos do Vale de Manuel Gonçalves, em 1937.
Fundado por Manuel Gonçalves, o grupo começou por dedicar-se à indústria têxtil, mas ao longo das décadas expandiu e diversificou a sua atividade para vários setores económicos, mantendo uma gestão de carácter familiar e privado.
Transformada em sociedade anónima em 1965, a empresa consolidou-se na década de 1970 como uma das principais referências da indústria têxtil portuguesa.
Atualmente, o Grupo TMG opera em áreas distintas que incluem os interiores para automóveis (através da TMG Automotive), o retalho e distribuição de vestuário (Lightning Bolt), a operação de meios aéreos (HeliPortugal), soluções de engenharia e energia (em parceria com a Efacec), bem como a produção vinícola (Caves Transmontanas e Casa de Compostela) e o setor energético.
O grupo, que conta com aproximadamente 970 colaboradores, aposta consistentemente em tecnologia, qualidade e inovação. A sua orientação estratégica visa antecipar tendências de mercado e garantir a sustentabilidade e crescimento a médio e longo prazo, com um forte enfoque na exportação e numa presença diversificada em diferentes geografias e setores.
Conclusão
Estas empresas mostram como a tradição pode caminhar lado a lado com a inovação. A história da indústria têxtil portuguesa não é feita apenas de fábricas, mas de pessoas, famílias, territórios e saberes que resistem ao tempo e continuam a vestir o mundo com qualidade e alma.
A história das empresas têxteis mais antigas de Portugal é muito mais do que uma linha do tempo é um testemunho vivo da capacidade de adaptação, visão estratégica e amor pelo ofício. Estas empresas não apenas sobreviveram às mudanças do setor, mas foram moldando-o, inovando sem esquecer as suas raízes.
Num mundo onde tudo é cada vez mais rápido e descartável, estas casas centenárias provam que a durabilidade, a qualidade e a herança continuam a ter valor e que a tradição, quando bem cuidada, pode ser o maior motor de futuro.