Quando se fala da indústria têxtil em Portugal, é impossível ignorar o papel fundamental da região Norte, mais concretamente, os vales do Ave e do Cávado. Estes dois vales constituem o coração pulsante do setor têxtil português, onde tradição, inovação e know-how se cruzam há décadas para gerar emprego, exportações e prestígio internacional.
Neste artigo, vamos apresentar como este cluster se formou e como se tem desenvolvido ao longo das últimas décadas até ao momento atual.
Em que consiste um cluster e qual a sua importância?
Um cluster de empresas é o agrupamento de diferentes negócios, que se conectam pelas suas relações empresariais. Estes envolvem organizações de um mesmo setor ou indústria, que colaboram entre si para alcançar objetivos em comum.
Esta colaboração engloba a troca de conhecimento, experiência e recursos, bem como a realização de atividades conjuntas, como pesquisa e desenvolvimento, marketing e exportação.
Desta maneira, um cluster de empresas pode ser formado de forma espontânea ou por iniciativa de governos, organizações empresariais ou outras entidades.
Estes são considerados de extrema importância para o desenvolvimento econômico regional e a competitividade das empresas, pois permitem que elas partilhem recursos e conhecimentos, gerem sinergias e criem novas oportunidades de negócios.
Um cluster com raízes profundas
O desenvolvimento têxtil na região remonta ao século XIX, com o surgimento das primeiras unidades industriais, sobretudo no Vale do Ave, uma zona com grande concentração de mão-de-obra e acesso a recursos hídricos, essenciais para o funcionamento dos teares e processos de acabamento. Cidades como Guimarães, Famalicão, Vizela, Barcelos e Santo Tirso tornaram-se centros de produção por excelência.
O Vale do Cávado, com destaque para Braga e Barcelos, também se firmou como uma zona essencial, especialmente nas áreas do vestuário e confeção. Juntas, estas regiões concentram uma das maiores densidades industriais da Europa no setor têxtil e vestuário.
80% das empresas estão localizadas no cluster que se alarga ao redor de Famalicão
Inovação e sustentabilidade no centro da transformação
Apesar das várias crises que afetaram a indústria ao longo das décadas, o cluster têxtil nortenho soube adaptar-se. Empresas investiram em tecnologia, diferenciação de produto e design, migrando de uma lógica de produção massiva para um modelo de valor acrescentado. O resultado é visível: marcas internacionais confiam cada vez mais na qualidade "Made in Portugal".
Além disso, a sustentabilidade tornou-se um dos pilares estratégicos. Muitas empresas da região apostam hoje na economia circular, reciclagem têxtil, matérias-primas ecológicas e na produção energeticamente eficiente.
Um ecossistema forte e colaborativo
Este cluster não se destaca apenas pelas empresas, sendo também apoiado por um verdadeiro ecossistema de investigação: centros tecnológicos (como o CITEVE e o CENTI), universidades (como a Universidade do Minho) e instituições de apoio à inovação e internacionalização.
Este ambiente colaborativo facilita a transferência de conhecimento e impulsiona o desenvolvimento de novos produtos e soluções têxteis técnicas que a indústria necessita cada vez mais.
Um motor de exportações e de identidade nacional
A maioria da produção têxtil portuguesa é exportada, e grande parte dessa produção sai do Norte do país. Este cluster é, por isso, não só uma força motriz da economia nacional, como também um símbolo de identidade e resiliência industrial. É aqui que a tradição e o futuro se encontram, todos os dias, nos fios, tecidos e produtos que ganham vida nas fábricas da região.
A região Norte de Portugal, particularmente as áreas metropolitanas do Porto e Braga, tem-se afirmado como um dos principais polos de produção têxtil a nível nacional e internacional. O Norte de Portugal destaca-se pela sua forte infraestrutura industrial, que inclui desde pequenas empresas familiares a grandes grupos empresariais com alcance global.
O know-how adquirido ao longo de décadas, aliado à qualificação profissional e à disponibilidade de recursos endógenos, permite que esta região se mantenha na vanguarda da indústria têxtil. São as competências técnicas nas áreas de tecelagem, fiação, acabamento e design têxtil que garantem a competitividade do setor.
Conclusão
O cluster têxtil do Vale do Ave e do Vale do Cávado é muito mais do que um conjunto de fábricas, é um exemplo de como a herança industrial pode dar origem a um modelo competitivo e sustentável, capaz de se destacar no panorama global. Neste território, a indústria continua viva, inovadora e profundamente ligada à cultura e ao futuro do país.
Em resumo, a região Norte de Portugal é um exemplo claro de como a tradição e a inovação podem andar de mãos dadas, resultando num cluster têxtil forte e competitivo que se destaca pela sua qualidade, sustentabilidade e capacidade de adaptação..
Investir no Cluster Têxtil da Zona Norte é não só garantir acesso a um mercado altamente qualificado, mas também apostar em um futuro de crescimento, inovação e sustentabilidade para a indústria têxtil.
Fontes:
Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE)
https://www.salesforce.com/br/blog/clusters/
https://ominho.pt/maior-cluster-de-empresas-texteis-na-europa-e-ao-redor-de-famalicao/
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/65246/1/DC11_8.pdf